Várias publicações replicadas nas redes sociais afirmam que uma equipe do Guinness World Records – o livro que registra os recordes mundiais – teria confirmado que a motociata convocada pelo presidente Jair Bolsonaro neste sábado (12) contou com a participação de 1.324.523 motos.
A afirmação é falsa.
Não há nenhum anúncio do Guinness sobre esse assunto em seus canais oficiais. Também não houve posicionamento de nenhum representante do livro que atestasse esse dado ou prova certificada.
A estimativa oficial da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo é que 12 mil motocicletas tenham percorrido o trajeto de 129 quilômetros entre a Capital e Jundiaí. O número de 1.324.523 motos foi divulgado por um dos organizadores da motociata nas redes sociais. Ele não foi localizado para comentar o dado.
MAIOR QUE TODA A FROTA
Para se ter uma ideia, o número citado é maior que toda a frota de motocicletas, motonetas e ciclomotores da cidade de São Paulo. Em abril de 2021, dados do Denatran estimavam que haviam 1.260.276 desses veículos devidamente registrados.
Para reunir 1,3 milhão de motos, cerca de 62% de toda a frota de motocicletas, motonetas e ciclomotores dos 39 municípios da região metropolitana de São Paulo deveriam ter ido ao encontro. Atualmente, toda a grande SP tem 2.132.784 veículos desse tipo.
Já em todo o estado de São Paulo são 6.015.445 motocicletas. Para efeitos de comparação, se todos os veículos participantes fossem do modelo scooters – com um comprimento de 1,73m por moto, ainda que colocássemos todas essas motos em fileiras de quinze unidades, seriam necessários mais de 152 quilômetros de estrada para colocar 1,3 milhão de scooters uma atrás da outra, sem qualquer espaço entre elas.
Considerando que elas estivessem em movimento, e distantes cerca de um metro umas das outras, então seria preciso quase 250 quilômetros de rodovia – o equivalente a distância de São Paulo a Ribeirão Preto. Todo o trajeto do passeio teve 130 quilômetros, incluindo um bate-volta a Jundiaí.
Outro dado inconsistente que circula é que o evento reuniu ainda 3,9 milhões de participantes. A conta não faz sentido. Se a motociata tivesse 1,3 milhão de motos, seria preciso ter três pessoas por veículo para chegar ao número de 3,9 milhões de participantes.
TEMPO HÁBIL
Mesmo que o recorde houvesse sido registrado pelo Guinness, não haveria tempo hábil para ratificar o recorde. A análise de pedidos para registrar novos recordes mundiais pode levar até 16 semanas – ou seja, quatro meses.
O tempo máximo para que a instituição verifique evidências que comprovem que um recorde foi quebrado é de outras 16 semanas. É possível o pagamento de uma taxa de mil dólares para que o processo seja mais rápido, mas de qualquer forma, uma primeira resposta levaria em média cinco dias.
Para provar um recorde é preciso que a tentativa envolva algo mensurável e com dados objetivos, e ainda que siga parâmetros replicáveis para quem quiser quebrar o recorde. É necessário ainda apresentar provas concretas de que o recorde aconteceu.
O Guinness não registrou até hoje o recode para a maior “motociata” do mundo ou equivalentes. O livro no entanto recordes para desfiles específicos de motocicletas, separados por modelos. Os recordes podem ser consultados através deste link.
A reportagem do Fato Verificado, serviço de checagem do 24Horas, entrou em contato com a assessoria do Guinness World Records no Brasil, e ainda não teve retorno.